A morte é real, muitas vezes vem sem
aviso e não pode ser evitada. Para culturas orientais lições sobre a
morte e o ato de morrer são comuns, enquanto permanecem como um assunto a
ser evitado por nós ocidentais, como se fossemos permanecer eternamente
neste planeta.
Nossa vinda é sempre calculada, e com
pequenas alterações de tempo, sabemos que em aproximadamente nove meses
mais uma alma estará iniciando sua jornada em um corpo físico. Muitos
dizem que escolhemos onde iremos nascer, mas verdade ou não, nascemos
sem esta consciência, e somos levados, a partir de então, a uma incrível
jornada de aprendizado, onde o objetivo principal é nossa evolução
individual.
Mas essa jornada terá um fim, que nunca
saberemos quando será. Partiremos e veremos muitos partirem, algumas
vezes sem nos despedirmos, afinal é assim que se encerra nossa presença
neste plano, e se inicia uma nova jornada, ainda desconhecida para todos
nós.
O antigo Reino de Ladak, que já fez
parte do Tibete Ocidental, localizado às margens da China e do
Paquistão, atualmente é governado pela Índia, e pelo fato de estar em
uma área politicamente “sensível” a entrada de estrangeiros só passou a
ser permitida a partir de 1974, resultando em uma cultura budista
uniforme, sem mudanças.
A cada ano novo a população de Leh,
principal cidade de Ladak, realiza uma peregrinação onde oferecem
prostrações, antiga prática budista, orando por todos aqueles que sofrem
neste mundo, pedindo que possam encontrar refúgio e paz.
Para o budismo o imutável despertar está
no coração de cada um de nós, e esta percepção básica é a nossa
principal essência, estando além da vida e da morte. Mas vir a este
mundo nos leva, inevitavelmente, a sofrimentos com os da doença, velhice
e morte.
Compaixão por tudo o que vive é a base do caminho durante toda nossa vida e também em nossa morte, sendo a crença na reencarnação uma expressão dessa compaixão.
Compaixão por tudo o que vive é a base do caminho durante toda nossa vida e também em nossa morte, sendo a crença na reencarnação uma expressão dessa compaixão.
Aproximadamente 1.300 anos atras o
Grande Santo Indiano Padmasambabha levou o budismo ao Tibete, sendo ele
autor do “Livro Tibetano dos Mortos”, um espécie de guia para a morte,
descrevendo o processo de morrer e sua transição natural. Os textos
explicam como reconhecemos os estados mentais e sofrimentos físicos
envolvidos, permitindo entrarmos em contato com nossa própria natureza
essencial. Desta forma é possível encontrar a liberdade da confusão e do
medo.
Confusão e medo, dois sentimentos tão
comuns na vida moderna. E quando entendemos o medo como uma projeção
futura de algo que ainda nem aconteceu entendemos que estamos sempre
preocupados com o futuro, esquecendo de viver o presente, o que, de
certa forma, geraria então a confusão vivida por muitos.
De acordo com o livro vida e morte são
uma continua corrente de certas transições chamados de “bardos”. Se no
bardo da morte a mente não reconhece sua própria natureza, ela se torna
mais sólida, impedindo a transição para uma nova forma de vida, já não
mais deste planeta.
No início de 1900 W. Evans Wentz, um
estudante americano de antropologia de Oxford, passou a se interessar
por reencarnação, trazendo da Índia para a Inglaterra uma versão
original do Livro dos Mortos, que foi traduzido para o inglês. Foi Wentz
quem, na verdade, deu o nome de “Livro Tibetano dos Mortos”, sendo o
original chamado de“Bardo Todol”.
Carl Jung, renomado psicólogo suíço,
descreveu o conteúdo do livro como contendo os segredos da alma,
completando ainda que o livro foi o seu grande companheiro durante o
aprendizado da vida.
Durante todo este ano que termina abordamos temas ligados a saúde e espiritualidade, pontos inseparáveis de nossas vidas, que estiveram perdidos, seguindo caminhos diferentes, mas que finalmente parecem se reencontrar, permitindo o que parece ser o início de uma nova era para a humanidade.
Durante todo este ano que termina abordamos temas ligados a saúde e espiritualidade, pontos inseparáveis de nossas vidas, que estiveram perdidos, seguindo caminhos diferentes, mas que finalmente parecem se reencontrar, permitindo o que parece ser o início de uma nova era para a humanidade.
Abordar o tema morte dentro da visão
budista, é na verdade uma forma de rever a nossa vida, nossos conceitos,
valores, atitudes e pensamentos. Evoluímos como povos, conquistamos
terras e o espaço, crescemos como cidades, desenvolvemos tecnologias e
manipulamos, de certa forma, a vida. Mas será que realmente estamos
vivendo a vida como ela deveria ser vivida? Como poderemos morrer se nem
sabemos se estamos vivos realmente?
Curioso ver que atualmente conceitos
antes separados por religiões se fundem no que poderíamos chamar de
“leis físicas do universo”, sendo estas únicas a todo e qualquer povo.
No livro de Lucas o apóstolo narra a cena de um homem que pede a Jesus
que, antes de lhe seguir, possa enterrar seu pai. Eis que o mestre
responde: “ Deixa que os mortos enterrem seus mortos, e tu vai e anuncia
o Reino de Deus” (Lucas 9:59-60).
Natal é a data cristã onde se comemora o
nascimento de Jesus Cristo, aquele que em seu tempo, assim como outros,
nos deixou muitas lições, muitas ainda nem compreendidas, mas que, como
em todas as outras religiões ou filosofias de vida, buscam nos orientar
nessa incrível, porém temporária, estada na terra.
Que este tempo, e este texto, lhe faça
refletir sobre o real sentido da vida, afinal de contas, só poderemos
morrer se estivermos vivos.